Saudações ióguicas!
No código de ética do Yoga, conhecido como Yamas e Niyamas, que de fato são os dois primeiros passos do Ashtanga Yoga de Patanjali (vide nosso artigo anterior neste Portal), temos SATYA – Veracidade – como o segundo Yama, sendo que o primeiro é AHIMSA, ou bem resumidamente, “não violência”.
Esse Yama ensina que o compromisso com a verdade deve ser sempre seguido, independente da situação vivenciada, atitudes a serem tomadas e as consequências das mesmas. Ou seja, não importa o que aconteça, deve-se manter a Veracidade acima de tudo.
Ser verdadeiro vai além de apenas “dizer a verdade”. A Veracidade pode ser praticada em três camadas: pensamento, palavra e ação. Com a prática desse Yama, segue-se o Dharma, sendo este entendido como um “propósito de Vida nos aspectos coletivo e individual”, ou como a “ordem” das coisas do Universo. Quando alinhamos essas três camadas, somos felizes, pois as atitudes condizem com as palavras e, estas, com os pensamentos. Assim, somos livres para seguir apenas com a Verdade.
“A verdade, por verdadeira que seja, não dói.” – autor desconhecido
Isso nos trás a história do Ladrão e o Rei, vejamos:
—
Uma vez, um ladrão quis aprender Yoga. Foi visitar um mestre e disse-lhe que queria praticar, mas que era ladrão, bêbado e mentiroso. O mestre falou dos yamas e niyamas, e disse que, para começar, deveria escolher um yama ou um niyama e ater-se a ele. O ladrão pensou: “minha profissão é roubar. É o que sustenta a minha família, portanto, fora de questão seguir asteya. A bebida é a minha única fonte de prazer, e tampouco vou largá-la. Ou seja, que nem shauchan nem tapas. Mas, deixar de mentir não vai me custar tanto. Vou seguir satya.” – E assim foi que ele decidiu falar somente a verdade.
Uma noite, o nosso ladrão foi roubar o palácio real. Eis que o rei estava passeando pelo jardim após um dia entediante, buscando algo que lhe tirasse o vazio existencial. Os dois se encontraram e o rei pergunta: “quem é você?”. O ladrão disse a verdade: “sou um ladrão e vim roubar o tesouro real.”
O rei viu ali a possibilidade de viver a emoção e a aventura que estava procurando desde cedo, e então falou: “eu também sou um ladrão. E sei onde se guarda a chave da sala do tesouro. Façamos juntos o trabalho e dividamos o lucro”. O ladrão concordou.
Os dois aventureiros entram no palácio, chegam na sala e dividem o tesouro. Porém, acham três enormes diamantes, que não podem ser divididos sem beneficiar um deles mais do que o outro. O ladrão, apelando para aquela generosidade que ocasionalmente conseguem ter os da sua profissão, diz: “fiquemos com um diamante cada, e deixemos o terceiro para o rei. Afinal, coitado, ele acabou de perder tudo.” Ao separar-se no jardim, o rei pergunta ao ladrão onde ele mora, e fala da possibilidade de contatá-lo novamente para futuros “trabalhos”. O ladrão fala a verdade.
No dia seguinte, o rei vislumbra a possibilidade de testar seu primeiro ministro. Chama-o e diz: “ontem à noite tive um sonho estranho. Sonhei que o tesouro fora roubado. Vá à sala conferir, pois um pressentimento está oprimindo meu coração.”
O ministro entra na sala, vê o diamante que sobrou e pensa: “o nosso rei perdeu absolutamente tudo. Este único diamante não fará nenhuma diferença”. Esconde a pedra preciosa sob a túnica e volta à sala do trono, dizendo que, efetivamente, o tesouro inteiro foi roubado. O rei manda prender o ladrão. Ao ser interrogado na frente do ministro, conta o acontecido: desde o encontro com o “colega” de profissão até o detalhe do diamante que eles deixaram na sala.
Desta forma, o rei descobre que o seu ministro não é de confiança, pois mente e rouba. Manda prendê-lo imediatamente. E, em seu lugar, nomeia primeiro ministro seu novo amigo, o ladrão. Este, dada a sua nova ocupação, deixou de roubar. E, como passou a ter outros prazeres, deixou igualmente de beber.
—
São muitas as reflexões que podem ser tiradas dessa história, mas observa-se a grande importância de se seguir Satya, a Veracidade, em toda e qualquer situação, porque quando a verdade é seguida, tudo flui de maneira natural, como realmente deve ser. Diz-se que, quando seguimos um Yama ou um Niyama, os demais acabam acontecendo de forma natural, pois “um puxa o outro”! Vamos praticar!
Quando crio essa abertura de ser verdadeiro comigo mesmo, posso ser verdadeiro com o próximo e, dessa forma, a harmonia nas relações pode ser estabelecida.
Após conhecermos um pouco mais sobre Satya, podemos seguir com os ensinamentos. Aguarde o tema de nosso próximo artigo!
Até lá, Namastê!
Luis Mauricio Fiorelli
Site: www.yogasorocaba.com.br
Mail: [email protected]
Whats: [15] 98134-4357