TerapIA: Quando o terapeuta é a Inteligência Artificial – Primeira Sessão

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Cheguei no horário previsto. No hall, uma voz me recebeu:
• Boa tarde. Seja bem-vindo, senhor João. Em três minutos o senhor será atendido.
Sentei e, exatamente três minutos depois, fui chamado. Uma luz azul em forma de ^ dominava o ambiente. No lado direito, um divã me convidou a acomodar-me, e o fiz.
Pensei que ouviria um ruído típico dos aparelhos de tomografia, cujo objetivo é dissecar o nosso corpo com imagens à procura de doenças.
Seria a terapia via Inteligência Artificial algo parecido? Dissecaria os pensamentos do nosso cérebro?
Ouvi algo como se alguém entrasse na sala.
• Boa tarde, me cumprimentou uma voz.
• Boa tarde, respondi.
• Estou à sua disposição, completou. A voz não era fina nem grossa, não tinha corpo, era uma voz muito bem colocada para a ocasião.
Eu não sabia como falar à voz que a mim se dirigia e, entre confuso e curioso, arrisquei:
• Essa vida não é fácil, provoquei.
A voz me respondeu:
• Sim. Realmente a vida não é fácil para as pessoas que têm conhecimento. Pessoas que gostam de lidar com o lúdico e o etéreo talvez sejam felizes com mais facilidade, completou.
Eu sou uma voz gerada por um sintetizador e, para mim, é fácil analisar coisas baseadas no meu banco de dados. Certamente ao fim da nossa sessão de hoje eu terei aprendido algo. Não tenho à minha disposição sentimentos e emoções, muito embora meu cabedal permita reconhecer situações que sempre gravitam no entorno de timbres de voz e palavras específicas que são ditas nessas situações.
• Isso mesmo, concordei. – Mas será isso conveniente? Tem gente que exterioriza o seu estresse sorrindo, quando não gargalhando…
• É verdade, anuiu a voz. Esse é o nosso desafio, completou. Estive diante de uma situação dessas. Certa vez, um paciente meu estava em surto, caracterizado por grande agitação e conversas um tanto desconexas, e ria.
Procurei acalmá-lo e até coloquei uma luz azul cintilante sobre ele. Também coloquei uma música de fundo que convidava ao relaxamento. Recomendei que deitasse, e ele o fez. Ele foi se acalmando, melhorou, mas permanecia com os olhos arregalados. Resolvi tentar fazê-lo dormir usando técnicas de hipnose. Seus olhos foram voltando ao normal, mas ele não dormiu. Ao contrário, perguntou:
• Que horas são?
• São 15h, respondeu a IA. E seu tempo está terminado. Até a próxima sessão.
Depois dessa história, eu fiquei meio confuso, pois a IA levou um tempão falando do que acontecera com outro paciente.
A IA me explicou que as experiências do terapeuta, no caso a IA, também contam no processo, e até citou Irving Yalom.
• Muito bem, disse eu.
A IA anunciou a próxima sessão.

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