Foto: divulgação.

A safra de laranjas 2019/2020 no cinturão citrícola foi, aproximadamente, 35% maior que a anterior, graças à ciência agronômica que viabiliza a produção de citros com qualidade praticamente o ano todo. Atualmente, no estado de São Paulo, graças às pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, há oferta de variedades de citros praticamente durante todo o ano. Nos meses de maio e junho, há 34 variedades de citros disponíveis aos produtores. Entretanto, nas prateleiras, as tangerinas Ponkan, laranjas Baias e Pera se destacam por possuírem grande público cativo e estarem no início de safra.

A vitamina C, disponível nos citros, tem alta popularidade por seus benefícios nutricionais, cosméticos, aromáticos e farmacêuticos. O consumo de frutas in natura, sucos e água com limão pela manhã são alguns hábitos disseminados para aumentar a imunidade, principalmente no outono/inverno, quando aumentam os casos de doenças respiratórias. Em 2020, além das enfermidades já conhecidas, há também a exposição ao novo coronavírus, o que reforça a necessidade de ingerir esse grupo de alimentos.

Segundo a pesquisadora do IAC, Marinês Bastianel, as variedades que estão em plena safra ou entrarão até junho são: as tangerinas Cravo, Ponkan, Fremont, W Murcott, Nova, Dekopon, Murcott Olé 7L e Mexerica Rio; as laranjas de baixa acidez Lima, Piralima, Champanha e Lima Sorocaba, as laranjas Hamlin, Barão, Westin, Rubi, Pineapple, Seleta do Rio, Sanguínea de Mombuca, Valencia Americana e Pera, as laranjas de umbigo Navelina, Baía Cabula, Baianinha e Baía Cara Cara, ainda Lima da Pérsia, limão Siciliano, lima ácida Tahiti. Em menor escala, outros citros como a Kinkan ou Kumquat e pomelos. Ela explica que toda variedade de citros possui uma boa dose de vitamina C. “Todas as cultivares IAC são ricas em vitamina C”, diz a pesquisadora.

Ao comprar produtos sazonais, os consumidores encontram preços mais atrativos e produtos de melhor qualidade. Marinês confirma que em relação à sazonalidade, quanto maior a oferta melhor será o preço final nas gôndolas. “Mas os frutos produzidos fora de época, dependendo das condições climáticas e do manejo, podem oferecer excelente qualidades físico-químicas e atender às exigências do consumidor”, ressalta a pesquisadora do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA).

No total, são 44 variedades entre laranjas, limas, limões e as tangerinas produzidas em maior ou menor escala, no estado de São Paulo, que fazem do Brasil um dos maiores produtores de citros e o líder na produção mundial de laranja doce e de suco industrializado da fruta.

De acordo com Marinês, atualmente a indústria prioriza a produção com as laranjas Pera, Valencia, Natal e Hamlin. Os outros grupos de citros — limas e limões e tangerinas — ocupam o quinto e sexto lugares, respectivamente, no ranking mundial de produção de citros. Esses três grupos reúnem as principais frutas cítricas de mesa, segmento em que a qualidade, a aparência e a diversidade são absolutamente necessárias para concorrer com outras frutas. “As tangerinas fazem parte de um grupo com maior diversidade dentre os citros, pois englobam diferentes espécies, como as tangerinas comuns, mexericas e muitos de seus híbridos”, diz. Dentre os híbridos há os tangores, resultantes do cruzamento entre tangerinas e laranjas, e os tangelos, fruto do cruzamento entre tangerinas e pomelos.

A tangerina Ponkan é a variedade mais cultivada no estado de São Paulo, seguido do tangor Murcott. Porém, ambas são suscetíveis à mancha marrom de alternaria, doença que requer várias aplicações de fungicidas. Por esse motivo, o setor tem apresentado maior interesse por novas variedades mais tolerantes ou resistentes. Marinês destaca a nova variedade de tangerina IAC 2019Maria, a tangerina Cravo IAC 182, a Dekopon IAC 2009 e a Fremont IAC 543 como algumas opções comerciais que agregam qualidade e tolerância ao fungo causador da mancha marrom de alternaria.

“A IAC 2019Maria é a primeira tangerina 100% obtida no Brasil; como é uma variedade nova ainda não há produção e os primeiros plantios estão sendo estabelecidos em 2020”, diz. A previsão é que os primeiros frutos estarão no mercado, possivelmente, daqui a três ou quatro anos. “Como é uma variedade protegida, a venda de mudas foi licenciada para comercialização por um viveiro credenciado pelo IAC”, diz.

Outras seleções de Ponkan disponibilizadas pelo IAC são as variedades precoces, como a Muscia IAC 607 e Span IAC 595, e as tardias Imperatriz IAC 565, De Wildt IAC 545 e Rosehaught Nartjee IAC 555. Outros destaques selecionados pelo Instituto são os tangores Ortanique IAC 554 e W Murcott, o primeiro por ser uma das mais tardias dentre as variedades desse grupo, o segundo por se assemelhar à Murcott e ambos por não possuírem sementes.

Entre as laranjas, a Pera é a variedade mais consumida pela indústria e no mercado in natura. Ela também tem boa aceitação no exterior. Há variedades do mesmo padrão, como as Westin IAC 115, Rubi IAC 52, Valencia Americana, todas de maturação precoce. “Os produtores que buscam maturação tardia podem optar pela Valencia IAC, Folha Murcha IAC e Charmute de Brotas IAC 2007”, diz.

De acordo com a pesquisadora, o mercado de fruta in natura prioriza frutos com cores, formatos e sabores diferentes, ao contrário da indústria, cujo foco é oferecer suco com ótimas qualidade químicas o ano todo e, consequentemente, opta por produzir sem grande diversificação de variedades. “O Centro de Citricultura do IAC vem apostando na ampliação de nichos de mercado e no atendimento das exigências cada vez maiores dos consumidores, por isso tem investido cada vez mais em um forte programa de melhoramento de citros, incluindo variedades de copa e de porta-enxerto”, afirma a pesquisadora do IAC. Essa diversificação nos pomares paulistas foi possível graças às pesquisas, produtos e serviços oferecidos pelo Centro de Citricultura do IAC, que atua há 92 anos ininterruptamente.

A diversificação varietal, além de agradar os consumidores por proporcionar citros ao longo do ano e com características distintas, também garante melhores resultados para citricultores. “A variação de variedades dentro do pomar possibilita diferentes épocas de maturação, o que amplia o período de colheita aumentando a produtividade e o lucro”, explica Marinês.

Estão em São Paulo cerca de 80% da produção nacional citrícola. A média da produção em 2019/2020 de laranja para mesa e indústria no cinturão citrícola que engloba São Paulo, Triângulo Mineiro e o Oeste-Sudeste de Minas Gerais é de 387 milhões de caixa com 40,8 quilos.

Não se faz ciência agronômica sem banco de germoplasma
E o que é um banco de germoplasma? Trata-se de um conjunto de plantas vivas, mantidas ao longo de décadas para usos em experimentos e no melhoramento de citros.

O Centro de Citricultura do IAC abriga o Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Citros desde o seu surgimento, em 1928. O BAG Citros IAC tem sido fonte notável de novas seleções e cultivares comerciais para a citricultura brasileira. Atualmente, contém mais de 1700 acessos de citros e gêneros relacionados, distribuídos nos seguintes grupos principais: laranjas doce (687 acessos), tangerinas e híbridos (271), mexericas (46), tangores (46), tangelos (22), limões (105), pomelos (48), toranjas (35), limas ácidas (27), cidras (22), limas doces (16) e os porta-enxertos, incluindo trifoliatas e híbridos (148), limões Cravo e híbridos (85), laranjas Azedas e híbridos (54), limões Rugosos (13), limões Volkameriano (5) e outros citros não comerciais e gêneros próximos (84).

Além dessa coleção, estão sendo continuamente incorporados ao BAG Citros IAC novos híbridos, sendo que atualmente conta com cerca de 1.000 acessos com potencial para cultivares copa e mais de 600 como porta-enxertos, todos gerados pelo Programa de Melhoramento Genético do Centro de Citricultura IAC.

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