Mais um Dia das Crianças se aproxima e, tradicionalmente, é comum pais e mães se esforçarem para encontrar brinquedos, roupas e lembrancinhas para presentear os filhos. A mestre em psicologia positiva e especialista em parentalidade consciente, Adriana Drulla, mãe de duas crianças, destaca, no entanto, que existem outros presentes mais importantes. Presentes que vão refletir na própria formação das crianças.
Crie vínculo
Estamos passando por momentos de muito estresse e ansiedade. Mas entre as coisas positivas que o isolamento social trouxe para as famílias é a possibilidade dos pais passarem mais tempo com seus filhos, em casa. E mais do que estar mais presente, é importante aproveitar esse tempo a mais para criar vínculos, criar conexão de modo que crianças e jovens se sintam verdadeiramente acolhidos e tenham seus sentimentos compreendidos por seus pais. O vínculo com os pais é um dos principais fatores que suportam a resiliência emocional da criança, que é a capacidade da criança de enfrentar desafios de forma construtiva. O primeiro passo para ganhar a confiança da criança é validando seus sentimentos, acolhendo o que ele está sentindo com empatia. “Não basta dizer ‘Eu amo meu filho e ele sabe disso’. O vínculo se constrói quando as pessoas compartilham experiências positivas. Brincar junto, cozinhar junto, até mesmo dividir outras tarefas de casa são exemplos de momentos agradáveis de interação”, completa Adriana.
Autocompaixão
Aos pais e mães, aceitar nossas imperfeições com naturalidade e abrir mão das expectativas irrealistas, é importante para a resiliência emocional dos nossos filhos. “Na minha pesquisa, feita nos Estados Unidos com 246 pares de mães e filhos, descobri que mães autocompassivas tem filhos mais autocompassivos, e se sentem mais competentes no seu papel de mãe”. A autocompaixão significa adotar uma postura gentil com relação a si mesmo, dando pra si o que você precisa em um momento difícil, seja um banho demorado, seja pedir ajuda para alguém porque você precisa relaxar. Quando os pais se cuidam e são mais gentis consigo, os filhos também se beneficiam. Eles aprendem a serem autocompassivos pelo exemplo, e tem um vínculo mais forte com pais e mães.
Quando nos cuidamos conseguimos nos conectar com a criança de uma forma mais profunda. Ao abrir mão da expectativa de nos tornarmos mães e pais perfeitos, conseguimos aceitar que nossos filhos também têm defeitos. A criança que se sente aceita por quem ela é, que não acha que precisa mudar para receber amor, desenvolve um autoconceito mais positivo e maior autocompaixão. “As pesquisas mostram que as crianças que têm maior dificuldade para lidar com os próprios erros, e que enxergam as limitações pessoais como sinal de que há algo errado com elas, tendem a deprimir e desenvolver outros problemas emocionais com maior frequência”, completa Adriana.
Escuta Compassiva
Para entender um filho é importante reservar um tempo para ouvir o que ele está sentindo. Uma escuta com aceitação e sem julgamentos faz com que o outro se expresse com sinceridade, sem preocupação com desaprovação. Uma escuta compassiva acontece do pescoço pra baixo. Isso significa que quem escuta não fala, apenas se disponibiliza a escutar o outro, ao mesmo tempo que presta atenção às próprias emoções, e como elas se expressam no corpo. Quem escuta demonstra entendimento e compreensão, nada mais. “E muitas vezes é apenas isso que a pessoa precisa pra que ela se sinta melhor e possa então pensar sobre como melhorar ou lidar com a situação. Muitas vezes tudo que precisamos é de uma escuta compreensiva, uma conexão sincera, um abraço, e um ombro pra chorar”, finaliza a especialista.
Sobre Adriana Drulla
Mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pennsylvania, programa criado por Martin Seligman, psicólogo fundador da psicologia positiva, para treinar alunos na vanguarda do campo juntamente com outros pesquisadores referência nos Estados Unidos e no mundo. Estudou compaixão e autocompaixão em cursos com Kristin Neff, Christopher Germer, Paul Gilbert e Tara Brach. Autora de artigo científico sobre a transmissão intergeracional da autocompaixão entre mães e filhos. É especialista em Mindfulness pela Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA) e teacher in training do Programa Mindful Self-Compassion, criado por Kristin Neff e Christopher Germer. Formada em Conscious Parenting por Shefali Tsabary, psicóloga referência em parentalidade e autora do método que une psicologia, parentalidade e espiritualidade.
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