Estamos enfrentando uma das piores temporadas de incêndios florestais em décadas, afetando gravemente diferentes regiões do País, como a Amazônia e o Pantanal. A seca extrema, as altas temperaturas e as atividades humanas, como o desmatamento ilegal, queimadas e práticas agrícolas predatórias, intensificam a propagação dos incêndios e geram nuvens de fumaça. A preocupação é generalizada e especialistas da área tecnológica alertam a população sobre os impactos negativos desse cenário, sinalizando como todos podem ajudar a reverter essa situação.
Somente na Amazônia, o número de focos de incêndio no primeiro semestre de 2024 atingiu o maior nível em 20 anos. Em todo o Brasil, 11,39 milhões de hectares já queimaram. O mês de agosto representou um crescimento de 149% no número de áreas queimadas em comparação ao ano anterior. São Paulo foi considerada a metrópole com a pior qualidade do ar no mundo por cinco dias consecutivos e Brasília está coberta por uma espessa camada de fumaça. Outros países da América do Sul, como Argentina e Uruguai, também estão sentindo os efeitos desse cenário, devido às correntes de vento que carregam a fumaça por milhares de quilômetros.
O aumento na frequência de secas e a redução das estações chuvosas trazem diversas consequências, que incluem solo mais ressecado, vegetação mais inflamável, perda de biodiversidade, maior emissão de carbono e aumento de doenças respiratórias entre a população. Vivemos uma emergência climática e conscientizar as pessoas é prioridade máxima. Um dos primeiros passos para mitigar os efeitos extremos das mudanças climáticas é a educação ambiental, que pode ser promovida de diversas formas, como a criação de canais de ouvidoria, campanhas, cursos, palestras em áreas remotas, veiculação de vídeos explicativos e distribuição de cartilhas com dicas essenciais.
Devemos ressaltar a importância da prevenção. Especialistas destacam que políticas públicas precisam prever a criação de leis específicas, incentivos econômicos, investimentos em pesquisa, recursos adequados para brigadas de incêndio e treinamentos especializados. Além disso, a Engenharia e a Geociências são fundamentais para planejar e executar estratégias técnicas, trabalhando em equipes multidisciplinares.
Diversas ações já estão em andamento, embora implementadas gradualmente, e vão desde medidas mais complexas, como a identificação de áreas mais secas, o monitoramento do clima e da fumaça, estudos históricos de determinadas regiões e o uso de satélites, até atividades mais simples, como a construção de aceiros e o uso de redes de comunicação para alertar moradores e órgãos responsáveis. Neste sentido, a tecnologia é uma das maiores aliadas no controle e prevenção de incêndios florestais.
O combate às mudanças climáticas depende, principalmente, de medidas conjuntas e integradas entre governos, sociedade civil, setor privado e a comunidade científica. Cada um de nós tem um papel a desempenhar, seja por meio de atitudes sustentáveis no dia a dia, apoio às políticas públicas ambientais ou o incentivo à educação e conscientização. O momento de reunir todo esse conhecimento científico para agir é agora e temos o corpo técnico adequado para fazer frente aos impactos agudos da crise climática.
Marilia Gregolin é engenheira agrônoma e diretora técnica do Crea-SP. O assunto deste artigo esteve em pauta durante o evento “Agro em Função: Fórum de Redução de Desastres e Prevenção e Combate a Incêndios” promovido pela autarquia.
Sobre o Crea-SP – Criada há 90 anos, a autarquia federal é responsável pela fiscalização, controle, orientação e aprimoramento do exercício e das atividades dos profissionais das Engenharias, Agronomia, Geociências, Tecnologia e Design de Interiores. O Crea-SP está presente nos 645 municípios do Estado, conta com cerca de 370 mil profissionais registrados e 95 mil empresas registradas.